Terapia celular com Células Mesenquimais permite regulação do sistema imunitário em doentes com Artrite Reumatoide
A artrite reumatoide é uma doença crónica autoimune, que se caracteriza pela inflamação das articulações, resultando na sua destruição progressiva e consequente perda de mobilidade. Em 50% dos casos existem também sintomas a nível sistémico, como lesões oculares, cardíacas e pulmonares, o que pode levar a uma redução da esperança de vida.
A artrite reumatoide é uma das doenças autoimunes mais comuns, afetando 0,5 a 1% da população mundial entre os 22 e os 55 anos, tendo maior prevalência em mulheres. Esta doença pode ter origem genética ou ser causada por fatores ambientais, como o tabaco e infeções, entre outros. Os tratamentos disponíveis atualmente não são totalmente eficazes: alguns doentes não respondem aos tratamentos convencionais ou apresentam efeitos adversos graves, nomeadamente o aparecimento de infeções, uma vez que a terapêutica se baseia principalmente na supressão do sistema imunitário como forma de travar a inflamação.
Neste sentido, há necessidade de se desenvolverem alternativas terapêuticas que possam oferecer a estes doentes novas perspetivas de tratamento e uma melhoria na qualidade de vida. A terapia celular, por infusão, tem vindo a revelar-se uma alternativa promissora às terapêuticas convencionais existentes para várias doenças. As células estaminais mesenquimais (MSC) encontram-se entre as mais utilizadas, por serem fáceis de isolar, terem capacidade de autorrenovação e de diferenciação em diferentes tipos celulares e serem capazes de regular a resposta do sistema imunitário. Vários ensaios clínicos têm vindo a ser desenvolvidos nos últimos anos, com o objetivo de avaliar a capacidade das MSC para promover a regeneração de tecidos e a proteção contra lesões, através da reposição de células danificadas. As MSC podem ser isoladas de diversas fontes, nomeadamente da medula óssea, do tecido adiposo, do tecido do cordão umbilical e da placenta.
REGULAÇÃO DO SISTEMA IMUNITÁRIO PELAS MSC EM DOENTES COM ARTRITE REUMATOIDE
Um artigo científico de revisão, recentemente publicado na revista Cellular Immunology, analisa os resultados de vários ensaios clínicos já realizados, em que foram utilizadas MSC no tratamento de doentes com artrite reumatoide. De acordo com os autores, os resultados obtidos foram bastante promissores, tendo demonstrado que os mecanismos de regulação do sistema imunitário (ao invés da sua supressão) exercidos pelas MSC, favorecem a melhoria dos sintomas, por reduzirem a inflamação através da sua interação com as células do sistema imunitário. Apesar de ainda estarem a ser investigados os mecanismos de ação das MSC, este tipo de terapia tem vindo a revolucionar a terapêutica convencional utilizada na artrite reumatoide, especialmente em casos de doentes que não respondem aos tratamentos convencionais. A eficácia do tratamento aparenta ser dependente da dose, não tendo sido registados efeitos adversos graves decorrentes da infusão de MSC, em contexto autólogo (com células do próprio) ou alogénico (com células de um dador), sendo as infusões normalmente bem toleradas. Contudo, as MSC obtidas de indivíduos jovens e saudáveis evidenciam-se como uma opção mais vantajosa, uma vez que a atividade biológica, o potencial regenerativo e a capacidade de diferenciação das MSC de doentes com artrite reumatoide se encontrarem afetados.
Apesar de, até ao momento, a terapia com MSC apresentar resultados favoráveis, são necessários mais estudos para que esta se possa tornar uma alternativa de tratamento para doentes com artrite reumatoide.
Referências Bibliográficas:
– Dehnavi, S. et al., (2023). Interactions of mesenchymal stromal/stem cells and immune cells following MSC-based therapeutic approaches in rheumatoid arthritis. Cellular Immunology, 393-394(104771). https://doi.org/10.1016/j.cellimm.2023.104771
– Liu, H. et al., (2020). Immunomodulatory Effects of Mesenchymal Stem Cells and Mesenchymal Stem Cell-Derived Extracellular Vesicles in Rheumatoid Arthritis, Frontiers in Immunology, 11(1912). https://doi.org/10.3389/fimmu.2020.01912