Segurança e eficácia das células estaminais mesenquimais no tratamento de lesões crónicas da medula espinal
A lesão medular (LM) ocorre na sequência de danos ou lesões na medula espinal, tendo como resultado a perda de funções sensoriais e motoras. Provoca um quadro debilitante cujos sintomas, dependentes do local e gravidade da lesão, incluem dor crónica, perda de sensibilidade e de força muscular, paralisia, entre outros1. Assim, a LM tem um elevado impacto na vida social e na saúde física e mental dos doentes, estando associada e uma elevada taxa de mortalidade. As principais causas incluem lesões traumáticas, doenças inflamatórias ou degenerativas. Em Portugal, o número de pessoas anualmente afetadas por esta patologia situa-se entre as 400 e 800 e aproxima-se das 500 mil a nível mundial2.
Os tratamentos convencionais, que incluem a intervenção cirúrgica, neuroestimulação e reabilitação fisiológica, apresentam resultados pouco satisfatórios no que respeita à melhoria dos sintomas, pelo que têm vindo a ser investigadas novas abordagens terapêuticas. As células estaminais mesenquimais (MSC) apresentam-se como uma alternativa promissora, pela capacidade de migrarem até ao local da lesão, pelo seu potencial de diferenciação em diversas linhagens, podendo ajudar na cicatrização e regeneração do tecido nervoso danificado. As MSC podem ser isoladas de diversas fontes, nomeadamente da medula óssea, do tecido adiposo, tecido do cordão umbilical, placenta, entre outros.
Avaliação da segurança de MSC em doentes com Lesões Medulares
Foram recentemente publicados na revista científica Cytotherapy3 os resultados de um ensaio clínico de fase 1/ 2, que teve como objetivo avaliar a segurança da administração de MSC como terapia para a LM e comparar o potencial de MSC obtidas a partir de diferentes fontes. Os doentes que participaram no ensaio clínico tinham LM há mais de um ano, tendo sido divididos em dois grupos: o grupo A recebeu tratamento com MSC da sua medula óssea (tratamento autólogo), e o grupo B recebeu MSC do tecido do cordão umbilical de dadores (tratamento alogénico). Aos doentes do grupo A foi inicialmente feita a implantação de MSC da medula óssea na zona em redor da lesão, tendo aos doentes de ambos os grupos sido administradas três injeções intratecais (diretamente no fluido espinal) de MSC, com intervalos de um mês entre si. O tempo médio de acompanhamento dos doentes foi de 22.65 meses.
Apesar de terem sido registados alguns efeitos adversos leves e de curta duração na sequência das injeções (dor no local da injeção, dor de cabeça, vómitos, suores, febre), não foram verificados efeitos adversos a longo prazo. Ambos os grupos evidenciaram melhorias significativas a nível sensorial, motor e funcional, que se traduziram em melhorias na sua qualidade de vida, tendo o Grupo A apresentado melhorias motoras mais pronunciadas. Apesar de existir a necessidade de serem desenvolvidos mais estudos nesta área, os resultados deste ensaio clínico sugerem que as MSC podem ser uma alternativa promissora no tratamento da LM, não só pela eficácia demonstrada com a melhoria significativa dos sintomas, mas também pela segurança evidenciada.
Referências:
1 https://www.saudebemestar.pt/pt/clinica/ortopedia/lesoes-vertebro-medulares/, acedido a 2 de agosto de 2024
2 https://sppcv.org/artigos-de-opiniao/dia-internacional-das-lesoes-da-coluna-assinala-se-a-5-de-setembro/, acedido a 26 de junho de 2024
3 Awidi, A. Et al. (2024). Safety and potential efficacy of expanded mesenchymal stromal cells of bone marrow and umbilical cord origins in patients with chronic spinal cord injuries: a phase I/II study, Cytotherapy. 26: 825-831 https://doi.org/10.1016/j.jcyt.2024.03.480