Esclerose múltipla – Transplante de células estaminais VS terapias convencionais
A esclerose múltipla é a mais comum das doenças desmielinizantes, sendo caracterizada pela localização de múltiplas placas de desmielinização na substância branca encefálica e medular. Estas placas são lesões que resultam do “ataque” do sistema imunológico do próprio doente à mielina (substância que protege as fibras nervosas). As lesões causam sinais e sintomas neurológicos intermitentes que, com a evolução da doença se vão progressivamente agravando. Esta é uma doença autoimune, crónica, que ainda não tem cura.
O transplante de células estaminais hematopoiéticas tem sido realizado, em contexto de ensaios clínicos, no tratamento de várias doenças autoimunes com o objetivo de reiniciar o sistema imunitário, anulando o “ataque” das células do próprio individuo. Segundo o EBMT (Europeean Group for Blood and Marrow Transplantation), em todo o mundo, já mais de 800 casos de esclerose múltipla terão sido tratados com transplante de células estaminais autólogas (a maioria em pequenos estudos de fase I/II). Apesar de este tipo de terapêutica aparentar ser bastante eficaz em alguns casos de esclerose múltipla, até ao momento não existiam estudos de fase II publicados.
Acaba de ser publicado o resultado de um ensaio clinico de fase II com o objetivo de investigar o efeito do transplante autólogo de células estaminais comparando-o com um tratamento convencional. O estudo publicado na revista Neurologia mostra que o transplante de células estaminais autólogas é significativamente mais eficaz do que a Mitoxantrona (um fármaco imunossupressor geralmente utilizado em casos graves de esclerose múltipla), na redução da atividade da doença.
O estudo incluiu 21 doentes com formas graves de esclerose múltipla, que foram divididos em dois grupos. Numa fase inicial, todos receberam medicação para suprimir a atividade do sistema imunitário. Na fase seguinte, 12 doentes receberam terapêutica convencional (a Mitoxantrona), e 9 receberam transplante de células estaminais autólogas (previamente recolhidas da medula do próprio doente). Os doentes foram depois seguidos durante cerca de 4 anos. Durante esse período, os médicos que acompanharam os doentes verificaram, por ressonância magnética, um menor aparecimento de novas placas nos doentes que receberam o transplante de células estaminais autólogas. Os investigadores concluíram que o transplante de células estaminais reduziu significativamente mais a atividade da doença do que o tratamento com a Mitoxantrona.
Estes resultados parecem promissores, no entanto são necessários ensaios clínicos com mais doentes para avaliar a eficácia desta abordagem. Neste contexto, no site www.clinicaltrials.com, um ensaio clinico de fase III, com o objetivo de comparar o transplante de células estaminais hematopoiéticas com a terapêutica padrão em doentes com esclerose múltipla grave, está atualmente a recrutar doentes.
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