Efeitos positivos da Administração de Células Estaminais a doentes com Lesões da Espinal Medula – resultados de um ensaio clínico
A maioria das lesões na espinal medula derivam de traumatismos ocorridos em acidentes de viação e podem resultar em paraplegia ou tetraplegia. São situações devastadoras para os doentes, com perda considerável de qualidade de vida. Um novo ensaio clínico realizado em Espanha revelou que a administração de células estaminais mesenquimais a estes doentes se traduz em melhorias na sua qualidade de vida.
As lesões da espinal medula são um dos mais dramáticos problemas de saúde que alguém pode enfrentar, com consequências drásticas na qualidade de vida do indivíduo e a forma como este se relaciona consigo próprio, com os seus familiares e com a sociedade. A incidência destas lesões, a nível mundial, é de 12 a 58 casos por milhão de habitantes, sendo mais frequente em indivíduos do sexo masculino. As lesões da espinal medula são causadas maioritariamente por traumatismos, mas podem também dever-se a doenças que resultam na sua degeneração ou compressão. Em Portugal, 39% das lesões traumáticas da espinal medula devem-se a acidentes de viação. Outras causas são quedas, cada vez mais frequentes entre a população idosa, acidentes de trabalho, atos de violência e prática desportiva.
Vários estudos pré-clínicos relativos a lesões cerebrais têm evidenciado as propriedades regenerativas das células estaminais mesenquimais. Pensa-se, agora, que estas células podem ajudar na recuperação de doentes com lesões na espinal medula.
Administração de Células Estaminais a doentes com Lesões da Espinal Medula melhora a sua qualidade de vida
Foram recentemente publicados os resultados de um ensaio clínico realizado no Hospital Universitário Puerta de Hierro-Majadahonda, em Madrid, Espanha. O ensaio consistiu na administração de células estaminais mesenquimais da medula óssea autóloga (do próprio) a doentes com lesão incompleta da espinal medula. Cada doente recebeu 4 doses de células estaminais mesenquimais com intervalos de 3 meses. O procedimento revelou ser seguro e bem tolerado, com efeitos adversos negligenciáveis.
Os 10 doentes incluídos no ensaio, dos quais 5 são tetraplégicos, apresentavam vários sintomas de disfunção neurológica, incluindo problemas motores, de controlo da micção, disfunção sexual, dor neuropática, espasticidade (rigidez muscular), espasmos musculares, entre outros. Ao longo do ensaio clínico, registaram-se melhorias significativas na sensibilidade, capacidade motora e tónus muscular. Os doentes começaram progressivamente a ter mais sensibilidade e facilidade em andar. Dois doentes reportaram melhorias a nível da função sexual, devida ao aumento da sensibilidade na área genital. Registou-se também, em vários doentes, um aumento do controlo da função intestinal e da micção, tendo 50% dos doentes voltado a ter controlo voluntário da micção. Houve, ainda, melhorias a nível da espasticidade, dor, espasmos musculares e na facilidade em realizar as atividades do dia-a-dia. A terapia com células estaminais mesenquimais teve um efeito claramente positivo na qualidade de vida destes doentes. É importante realizar mais estudos para otimizar esta terapia e obter ainda melhores resultados.
Referência:
Vaquero J, et al. Repeated subarachnoid administrations of autologous mesenchymal stromal cells supported in autologous plasma improve quality of life in patients suffering incomplete spinal cord injury. Cytotherapy. 2017 Mar;19(3):349-359.