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Células estaminais do tecido adiposo no tratamento da Doença de Alzheimer

A doença de Alzheimer é a principal causa de demência a nível mundial, estimando-se que haja mais de 28 milhões de pessoas a viver com esta doença. Em Portugal, pensa-se que atinja mais de 120 mil pessoas, número que poderá ascender a 200 mil já em 2037. A doença de Alzheimer é causada pela acumulação das proteínas tau e beta amiloide no cérebro, resultando na morte de células cerebrais e, consequentemente, em declínio cognitivo progressivo, atualmente irreversível. Os sintomas incluem perda de memória e alterações na capacidade de concentração e aprendizagem. Atualmente, os tratamentos disponíveis para gerir a doença são incapazes de impedir a sua progressão, visando fundamentalmente melhorar os sintomas. Desta forma, é de extrema importância encontrar soluções terapêuticas capazes de prevenir e tratar a doença de Alzheimer.

Ensaio clínico testa células do tecido adiposo em doentes com Doença de Alzheimer

Recentemente, um ensaio clínico, realizado nos EUA, obteve resultados promissores, após administração de células do tecido adiposo (gordura) a dez doentes com doença de Alzheimer. As células foram obtidas por lipoaspiração e posteriormente administradas ao próprio, não tendo havido qualquer sinal de rejeição durante o período de acompanhamento dos doentes. Os participantes, com idade média de 76 anos e que viviam há cerca de 6 anos com a doença, receberam entre uma a oito doses de células estaminais do tecido adiposo autólogo (do próprio).

Os resultados deste ensaio clínico revelaram-se surpreendentes, pois, em vez da deterioração progressiva que tipicamente se verifica no doente com doença de Alzheimer, os investigadores observaram, em 8 doentes, sinais de estabilização ou mesmo melhoria das capacidades cognitivas após o tratamento com células do tecido adiposo. Notavelmente, observou-se, em 3 doentes, uma melhoria da performance nos testes de memória e nos níveis de proteína tau. Em dois doentes verificou-se, ainda, o aumento do volume do hipocampo (zona do cérebro relacionada com a memória), o que indica que houve crescimento da massa cerebral nesta região, potencialmente promovida pelas células administradas. O tratamento revelou-se seguro, tendo apenas 2 doentes apresentado complicações, que foram rapidamente resolvidas. Agora, os investigadores planeiam avançar com um ensaio clínico de fase II, de forma a demonstrar, com maior robustez, a eficácia das células estaminais do tecido adiposo no tratamento da doença de Alzheimer.

Ensaios pré-clínicos demonstram benefício do tecido adiposo na doença de Alzheimer

Estes resultados estão de acordo com estudos pré-clínicos anteriormente realizados, que indicam que a administração de células do tecido adiposo poderá ser útil no tratamento da doença de Alzheimer. Um estudo em modelo animal demonstrou que as células do tecido adiposo migram para o cérebro, encontrando-se disseminadas por várias regiões cerebrais (incluindo o hipocampo) 3 a 10 dias após administração intravenosa. Neste estudo, observaram-se melhorias na capacidade de aprendizagem e memória nos ratinhos tratados com células estaminais do tecido adiposo, comparativamente aos não tratados. Para além disso, observou-se uma diminuição da proteína beta amiloide acumulada no cérebro, efeito que os autores associam ao aumento dos níveis de neprilisina, uma enzima capaz de degradar a proteína beta amiloide. Neste estudo, os autores provaram, ainda, que houve um aumento da formação de novos neurónios no hipocampo dos animais que receberam células estaminais do tecido adiposo, o que está também de acordo com os resultados do ensaio clínico em doentes humanos.

Com o aumento da população em idade avançada, é cada vez mais importante a realização de estudos que permitam desenvolver terapias inovadoras para o tratamento da doença de Alzheimer. Há, no entanto, um longo caminho a percorrer até que este tipo de terapia possa ter uma utilização alargada à população de doentes, incluindo a realização de ensaios clínicos com maior número de doentes.

Referências:

Duma C, et al. Human intracerebroventricular (ICV) injection of autologous, non‑engineered, adipose‑derived stromal vascular fraction (ADSVF) for neurodegenerative disorders: results of a 3‑year phase 1 study of 113 injections in 31 patients. Mol Biol Rep. 2019. doi: 10.1007/s11033-019-04983-5. [Epub ahead of print]

 

Kim S, et al. The preventive and therapeutic effects of intravenous human adipose-derived stem cells in Alzheimer’s disease mice. PLoS One. 2012. 7(9):e45757.

 

http://alzheimerportugal.org/pt/text-0-9-30-14-a-doenca-de-alzheimer acedido a 29-07-2019.