Células estaminais do cordão umbilical benéficas em crianças com paralisia cerebral
A paralisia cerebral é a principal causa de incapacidade física em crianças, e estima-se que afete até 3 em cada 1000 indivíduos, a nível mundial. É um problema de origem neurológica que resulta de danos cerebrais sofridos antes ou após o nascimento, podendo afetar, com maior ou menor gravidade, o movimento, a postura e a coordenação motora. Embora as abordagens terapêuticas clássicas, como a fisioterapia e a terapia ocupacional, possam ajudar no processo de reabilitação, estas têm-se revelado insuficientes, estando a ser investigadas novas opções de tratamento.
O interesse em usar células estaminais para tratar problemas do foro neurológico tem vindo a intensificar-se, tendo sido reportados, nos últimos anos, resultados favoráveis da aplicação de células estaminais do sangue e do tecido do cordão umbilical no tratamento de crianças com paralisia cerebral. Em concordância com os dados anteriormente publicados, os resultados de um novo estudo divulgado na revista científica Stem Cell Research & Therapy demonstram a utilidade das células estaminais do tecido do cordão umbilical no contexto da paralisia cerebral.
Células estaminais do cordão umbilical melhoram função motora de crianças com paralisia cerebral
O artigo científico agora publicado descreve os resultados de um ensaio clínico, que decorreu entre 2017 e 2019, e que incluiu 72 crianças dos 4 aos 14 anos com paralisia cerebral. Os investigadores optaram por dividir aleatoriamente as crianças em dois grupos: o grupo controlo, que não recebeu células; e o grupo experimental, ao qual foram administradas células estaminais do tecido do cordão umbilical por via intratecal (através de punção lombar). Os investigadores escolheram esta via de administração, em vez da via intravenosa usada noutros estudos, com o objetivo de maximizar o número de células capazes de chegar ao local da lesão, e assim obter melhores resultados. Não se verificaram diferenças significativas entre os grupos relativamente à frequência de efeitos adversos, nem ocorreram efeitos adversos graves durante o estudo, pelo que o tratamento foi considerado seguro. Durante o estudo, todas as crianças participaram no mesmo programa de reabilitação, que incluía três sessões de 75 minutos por semana.
Os participantes foram submetidos a vários testes, no início do estudo e ao longo de um ano. Após a análise dos resultados, os investigadores concluíram que, ao longo dos 12 meses de seguimento, o grupo tratado com células estaminais do cordão umbilical – mas não o grupo controlo – apresentou melhorias significativas na função motora, relativamente aos níveis iniciais, o que sugere um efeito positivo da administração destas células. Aos 12 meses de seguimento, as crianças do grupo experimental destacaram-se, ainda, relativamente às do grupo controlo, pelas melhorias que apresentaram ao nível do tónus muscular, mobilidade e autocuidados. Os estudos de imagiologia realizados durante o ensaio clínico apontam para melhorias estruturais ao nível cerebral, associadas à administração das células estaminais, mais uma vez sugerindo o efeito benéfico da sua aplicação.
No seu conjunto, estes resultados demonstram que a administração intratecal de células estaminais do tecido do cordão umbilical é segura e tem efeitos benéficos na função motora e tónus muscular de crianças com paralisia cerebral, possivelmente justificadas por alterações positivas ao nível cerebral, induzidas por estas células. Os autores aconselham a realização de mais estudos para determinar qual a melhor via de administração, fonte e dose de células estaminais para realizar este tipo de tratamento, bem como para compreender os mecanismos subjacentes à reparação neurológica promovida pelas células estaminais.
Referência:
Amanat M, et al. Clinical and imaging outcomes after intrathecal injection of umbilical cord tissue mesenchymal stem cells in cerebral palsy: a randomized double-blind sham-controlled clinical trial. Stem Cell Res Ther. 2021. 12(1):439.
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