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Aprovado tratamento com células estaminais para complicações da Doença de Crohn

A Comissão Europeia aprovou, recentemente, a comercialização de um produto de terapia celular constituído por células estaminais do tecido adiposo expandidas em laboratório, denominado Alofisel, destinado ao tratamento de fístulas perianais em adultos com Doença de Crohn. Esta aprovação surge no seguimento de um parecer favorável da Agência Europeia do Medicamento, baseado nos resultados obtidos num ensaio clínico de fase III, que demonstrou a eficácia a longo-prazo desta nova terapêutica.

A Doença de Crohn caracteriza-se pela inflamação crónica do trato gastrointestinal, levando ao aparecimento de sintomas como oclusão intestinal, diarreia e dor abdominal. Em Portugal, a sua incidência tem vindo a crescer nos últimos anos, estimando-se que afete 73 pessoas por cada 100.000 habitantes.

Uma das complicações mais comuns da doença de Crohn é a ocorrência de fístulas perianais, que consistem em canais anormais que se formam entre o intestino e a zona que rodeia o ânus e causam grande desconforto, podendo tornar-se debilitantes e comprometer significativamente a qualidade de vida destes doentes. Cerca de 70-80% das fístulas são complexas e difíceis de tratar, utilizando as abordagens convencionais, que incluem antibióticos, imunossupressores e mesmo cirurgia, representando um desafio para os prestadores de cuidados de saúde. Para além disso, em cerca de 60-70% dos doentes que respondem aos tratamentos, os sintomas voltam quando o tratamento termina. Desta forma, é urgente encontrar alternativas terapêuticas eficazes a longo-prazo para a resolução deste problema.

O estudo agora publicado, e que está na base da autorização de comercialização deste produto de terapia celular, demonstra que as células estaminais mesenquimais do tecido adiposo, dotadas de propriedades anti-inflamatórias e imunomoduladoras, são capazes de ajudar a tratar fístulas perianais complexas decorrentes da doença de Crohn refratárias (i.e. que não respondem) aos tratamentos convencionais.

Aplicação local de células estaminais cura fístulas perianais decorrentes da Doença de Crohn

Entre 2012 e 2015, um total de 212 adultos, com idade média de 38 anos, apresentando fístulas perianais complexas decorrentes da doença de Crohn, refratárias aos tratamentos convencionais, foram incluídos neste ensaio clínico de fase III, que contou com a colaboração de 49 hospitais, de 7 países da Europa e Israel. Os participantes foram divididos em 2 grupos: o grupo experimental, tratado com Alofisel, em conjunto com terapêutica convencional; e o grupo controlo, tratado apenas de forma convencional. A avaliação clínica efetuada às 24 semanas após o tratamento e confirmada por ressonância magnética, revelou que em 50% dos doentes do grupo experimental se observou o encerramento completo das fístulas tratadas, em contraste com apenas 34% dos doentes do grupo controlo, o que demonstra que o Alofisel é capaz de promover o encerramento das fístulas. Estes resultados mantiveram-se um ano após o tratamento, confirmando a sua eficácia a longo-prazo. Adicionalmente, dos doentes tratados que atingiram a remissão dos sintomas após 24 semanas, 75% não sofreram recaídas 1 ano após o tratamento, valor significativamente melhor do que o observado para o grupo controlo (55,9%).

O perfil de segurança do Alofisel reportado às 24 e 52 semanas após o tratamento demonstrou-se muito favorável, tendo os efeitos adversos sido observados em igual percentagem de doentes dos grupos experimental e controlo. Segundo os autores do estudo, estes efeitos deveram-se provavelmente ao natural decorrer da doença e tratamentos convencionais utilizados.

Este novo produto de terapia celular com células estaminais do tecido adiposo representa uma nova alternativa minimamente invasiva para tratar fístulas perianais complexas associadas à doença de Crohn, o que poderá reduzir a necessidade de recorrer a imunossupressores ou mesmo cirurgia. Os doentes que não respondem aos tratamentos convencionais ou aos quais está contra-indicado o uso de imunossupressores poderão beneficiar substancialmente deste tipo de terapia.

Referências:

Panés J, García-Olmo D, Van Assche G, Colombel JF, Reinisch W, Baumgart DC, Dignass A, Nachury M, Ferrante M, Kazemi-Shirazi L, Grimaud JC, de la Portilla F, Goldin E, Richard MP, Leselbaum A, Danese S; ADMIRE CD Study Group Collaborators. Expanded allogeneic adipose-derived mesenchymal stem cells (Cx601) for complex perianal fistulas in Crohn’s disease: a phase 3 randomised, double-blind controlled trial. Lancet (2016) Sep 24;388(10051):1281-90.

Panés J, García-Olmo D, Van Assche G, Colombel JF, Reinisch W, Baumgart DC, Dignass A, Nachury M, Ferrante M, Kazemi-Shirazi L, Grimaud JC, de la Portilla F, Goldin E, Richard MP, Diez MC, Tagarro I, Leselbaum A, Danese S; ADMIRE CD Study Group Collaborators. Long-term Efficacy and Safety of Stem Cell Therapy (Cx601) for Complex Perianal Fistulas in Patients With Crohn’s Disease. Gastroenterology (2018) Apr;154(5):1334-1342.e4.

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