Aplicação de células estaminais nos ovários permite tratar Menopausa Precoce
Embora afete apenas 1% das mulheres com menos de 40 anos, a menopausa precoce é vivida intensamente pelas doentes que, desde novas, lidam com os sintomas e vêem-se impossibilitadas de engravidar. As novas estratégias desenvolvidas para restaurar a função ovárica nestas mulheres revelam-se promissoras.
Falência Ovárica Prematura – O que é?
A falência ovárica prematura, também conhecida como menopausa precoce, corresponde à perda de função ovárica em mulheres com menos de 40 anos e caracteriza-se pela ausência de menstruação e baixo nível de estrogénio no sangue. Embora esta doença afete apenas 1% da população feminina nesta faixa etária, acarreta, ainda assim, um impacto muito significativo na sua saúde e bem-estar.
Quais as causas de Falência Ovárica Prematura?
Vários fatores podem contribuir para o desenvolvimento desta doença, no entanto, estima-se que mais de 40% dos casos possam ser atribuídos a causas genéticas e cerca de 20-30% dos casos a processos relacionados com autoimunidade. Tratamentos para o cancro, como a radioterapia e a quimioterapia, também contribuem para o seu aparecimento.
Sintomas e implicações na saúde
Para além da infertilidade associada à falência ovárica prematura, sintomas comuns incluem “afrontamentos”, que ocorrem em 75% dos casos e tendem a ser mais severos do que na menopausa normal, suores noturnos, atrofia vaginal, alteração da função urinária, disfunção sexual e perturbações do sono. Estes e outros sintomas, como cefaleias, ansiedade e depressão têm um forte impacto negativo na qualidade de vida destas doentes. Para além disto, estas apresentam, ainda, um risco aumentado de desenvolver precocemente osteoporose e problemas cardiovasculares.
Tratamentos e novas estratégias
Embora seja possível aliviar os sintomas recorrendo a terapia de substituição hormonal, o problema da infertilidade nestas mulheres persiste, pois a função ovárica não é restaurada. Uma solução encontrada para estas doentes conseguirem engravidar é a fertilização in vitro, recorrendo à doação de ovócitos. Não se tratando da situação ideal, novas terapias, ainda em fase experimental, estão a ser desenvolvidas para estimular os ovários a produzir ovócitos e permitir a estas mulheres conceber naturalmente.
Uma das estratégias em estudo é a aplicação direta nos ovários de células estaminais mesenquimais (MSC, de Mesenchymal Stem Cells) do tecido do cordão umbilical. Foram, recentemente, divulgados os resultados de um ensaio clínico que incluiu 14 mulheres com falência ovárica prematura, com idades compreendidas entre os 26 e os 37 anos, tratadas com esta metodologia. Após o tratamento, as participantes foram acompanhadas regularmente durante 1 ano, não se tendo observado efeitos adversos severos decorrentes do tratamento.
Mulheres com menopausa precoce engravidam após tratamento com células estaminais
Antes do tratamento experimental, nenhuma das participantes tinha demonstrado sinais de fertilidade ou de produção de ovócitos. Três meses após o tratamento, começaram a observar-se sinais de atividade ovárica, quer a nível hormonal, quer a nível ecográfico, com os exames a indicar aumento de tamanho e fluxo sanguíneo dos ovários, em pelo menos seis doentes. Em várias participantes, foi possível observar maturação de ovócitos, e inclusive a presença de ovócitos maduros. De forma notável, duas participantes conseguiram engravidar de forma natural no primeiro ano após o tratamento, o que não seria expectável.
Assim, o tratamento com MSC do tecido do cordão umbilical demonstrou-se seguro e capaz de ativar a produção de ovócitos maduros em mulheres com falência ovárica prematura, representando um tratamento promissor para esta doença.
Referências:
Ding L, Yan G, Wang B, Xu L, Gu Y, Ru T, Cui X, Lei L, Liu J, Sheng X, Wang B, Zhang C, Yang Y, Jiang R, Zhou J, Kong N, Lu F, Zhou H, Zhao Y, Chen B, Hu Y, Dai J, Sun H. Transplantation of UC-MSCs on collagen scaffold activates follicles in dormant ovaries of POF patients with long history of infertility. Sci China Life Sci (2018) https://doi.org/10.1007/s11427-017-9272-2.
Simões, ACC. Falência Ovárica Prematura, MS Thesis. Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, Portugal, 2015.