Transplantação com Células Estaminais no tratamento de Esclerose Múltipla
A Esclerose Múltipla (EM) é uma doença inflamatória crónica do sistema nervoso central (cérebro e espinal medula) que afeta cerca de 2.5 milhões de pessoas em todo o mundo. Manifesta-se geralmente no início da idade adulta, sendo que as mulheres têm uma probabilidade cerca de 3 vezes maior de desenvolver a doença. Trata-se de uma doença autoimune em que o sistema imunitário ataca as células do sistema nervoso central da própria pessoa, levando a um processo de neurodegeneração. Os sintomas típicos dos doentes com EM são perda de força muscular, rigidez, problemas com o andar e o equilíbrio e dor crónica. Estes doentes podem também manifestar fadiga, tonturas e problemas de visão.
As opções terapêuticas convencionais são geralmente eficazes na redução da frequência e severidade dos episódios inflamatórios característicos da Esclerose Múltipla Surto-Remissão (EMSR), em que há episódios de agravamento dos sintomas, seguidos de períodos de regressão total ou parcial dos mesmos. No entanto muitos doentes com EM não respondem às terapêuticas convencionais, o que tem levado à procura de novas opções terapêuticas para esses doentes.
Há mais de 20 anos que se estuda a utilização de transplantes hematopoiéticos autólogos para tratar as formas mais agressivas de EM. Esta terapia consiste em colher células estaminais do sangue periférico da própria pessoa e reintroduzi-las após quimioterapia. Com este procedimento pretende-se remover as células autorreativas causadoras da doença, o que conduz a um “reset” imunológico, proporcionando um período longo de remissão dos sintomas, livre de tratamentos farmacológicos e, em alguns casos, até revertendo, ainda que não totalmente, os danos neurológicos nestes doentes.
Transplantes Hematopoiéticos são eficazes no tratamento de formas agressivas de Esclerose Múltipla
Vários ensaios clínicos têm avaliado o potencial da transplantação hematopoiética no tratamento de EM. A equipa do Dr. Nash1, do Colorado Blood Cancer Institute iniciou um ensaio clínico, em que 24 doentes com EMSR foram transplantados com as suas células estaminais hematopoiéticas, com resultados muito favoráveis: 3 anos após o transplante, 78% dos doentes mantiveram-se em período de remissão sem necessidade de medicação para EM, não se observando progressão do grau de incapacidade nem novas lesões neurológicas nestes doentes; após 5 anos, 69% dos doentes mantinham-se ainda em remissão, sem o aparecimento de novos surtos. Entretanto, a equipa do Dr. Muraro2 também observou melhorias evidentes em doentes com EMSR: 73% dos doentes transplantados mantiveram-se estáveis após 5 anos, sem agravamento dos sintomas. Casanova e colaboradores3 também observaram uma diminuição no grau de incapacidade e frequência do aparecimento de surtos em doentes com EMSR, que se manteve estável ao longo de um período médio de 6 anos. Neste estudo, os investigadores consideraram que o seu protocolo é seguro e foi bem tolerado, com uma taxa de mortalidade nula e com baixa percentagem de efeitos adversos severos.
Em suma, vários ensaios clínicos têm demonstrado que a transplantação hematopoiética autóloga se traduz em melhorias a longo prazo em doentes com EM. Se, em futuros ensaios, a transplantação hematopoiética for considerada mais eficaz do que os melhores tratamentos atuais para EMSR, estes doentes poderão vir a beneficiar deste tipo de terapia, que poderá alterar drasticamente o curso da doença, proporcionando longos períodos de remissão sem recurso a medicação.
Referências:
http://www.medicalnewstoday.com/articles/315938.php
http://www.medicalnewstoday.com/articles/315654.php
1- Nash RA, et al. JAMA Neurol. 2015 February; 72(2): 159-169.
2- Muraro PA, et al. JAMA Neurol. 2017 Apr 1;74(4):459-469.
3- Casanova B, et al. Neurol Sci. 2017 Apr 10. doi: 10.1007/s10072-017-2933-6.
4- Collins F, et al. Expert Rev Clin Immunol. 2017 Jun;13(6):611-622.