Resultados positivos após a aplicação de células estaminais em doentes tetraplégicos – resultados preliminares de ensaio clínico
Ensaio clínico com resultados promissores em doentes tetraplégicos
Os resultados preliminares de um ensaio clínico para avaliar os efeitos da infusão de células estaminais em doentes com lesões na coluna cervical (aplicação de células estaminais em doentes tetraplégicos) foram recentemente apresentados no 55º congresso anual da International Spinal Cord Society, em Viena (Áustria).
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, todos os anos entre 250.000 e 500.000 indivíduos sofrem uma lesão da coluna vertebral, sendo as principais causas destas lesões os acidentes de viação, as quedas ou os atos de violência. Uma grande parte das lesões da coluna vertebral ocorrem na região cervical, resultando em tetraplegia (perda de controlo dos movimentos dos membros superiores e inferiores) muitas vezes permanente, ficando estes doentes dependentes de terceiros.
Uma empresa americana de biotecnologia, a Asterias Biotherapeutics, Inc., desenvolveu um ensaio clínico, com o objetivo de avaliar a segurança e eficácia de células precursoras de oligodendrócitos obtidas a partir de células estaminais embrionárias (AST‑OPC1) no tratamento de doentes com lesões na coluna cervical, com perda total dos movimentos e da sensibilidade nos membros superiores e inferiores.
Nesta fase do ensaio clínico foram recrutados 5 doentes aos quais foi injetada uma dose de 10 milhões de células AST-OPC1 na região da lesão, entre os 14 e 30 dias após o acidente. Os doentes foram depois avaliados por uma escala de medida do nível de função motora, normalmente utilizada nestes casos.
Os investigadores apresentaram os primeiros resultados quando apenas 4 dos 5 doentes tinham atingido os 90 dias após o tratamento. Verificaram que, nesta fase, se registaram melhorias nas funções dos membros superiores dos 5 doentes tratados. Dos 4 doentes que já tinham chegado aos 90 dias após o tratamento, 4 tiveram melhoria de um nível em pelo menos um dos lados (recuperando alguma função num braço) e 2 desses doentes tiveram uma melhoria de dois níveis em pelo menos um dos braços (recuperando alguma função num braço, mão e dedos). Num destes doentes verificou-se uma melhoria de dois níveis em ambos os braços. Durante este período não foram observados quaisquer efeitos adversos associados à infusão das células, ao procedimento de administração ou à imunossupressão.
Segundo a Asterias Biotherapeutics, estes dados demonstram que as células AST-POC1 podem ser administradas de forma segura numa fase subaguda após uma lesão da medula espinal. A empresa refere ainda que os resultados sugerem que as células AST-OPC1 têm capacidade de contribuir para a reparação das células que foram danificadas na medula espinal, restabelecendo (pelo menos parcialmente) o sinal que é transmitido do cérebro à medula espinal, permitindo recuperar alguma função.
Jovem tetraplégico recupera controlo dos braços
A história do doente, integrado no ensaio clínico, que apresentou uma melhoria de dois níveis em ambos os braços, foi também agora divulgada pela USC News. Kristopher Boesen de 21 anos, residente na Califórnia, sofreu, em Março, uma lesão na coluna cervical na sequência de um acidente de viação, ficando tetraplégico. Duas semanas após ter sido submetido ao tratamento com AST-OPC1, Kristopher começou a mostrar sinais de melhoria. Três meses depois, já era capaz de se alimentar sozinho, utilizar o telemóvel, escrever o seu nome e usar uma cadeira de rodas.
Os resultados superaram as expectativas dos investigadores que esperavam começar a observar resultados apenas 6 ou 12 meses após o tratamento.
Todos os doentes continuarão a ser seguidos durante os 12 meses previstos no ensaio clínico, de modo a avaliar o efeito do tratamento a longo prazo. Os investigadores planeiam agora iniciar a próxima fase do estudo, num outro grupo de doentes aos quais será administrada uma dose de 20 milhões de células.
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